Esta área de intervenção tem na sua origem o trabalho do psicólogo norte americano Bóris Levinson, que já em 1962 começou a estudar os efeitos da presença de um cão nas suas sessões de terapia. Contudo, historicamente, há relatos bem mais ancestrais dos efeitos positivos que os animais poderão ter sobre as pessoas.
Não é difícil entender como é que uma ferramenta viva, como é o caso do cão, aliado ao processo terapêutico, pode facilitar o mesmo.
Como?
Pode ser fácil cair na tentação de acreditar que o animal, independentemente das suas características, ajuda simplesmente por ser um estímulo forte, diferente, e apelativo na maioria dos casos. No entanto, na sua forma profissional, a Terapia Assistida com Animais é uma área especializada e exigente. Seja qual for o animal a ser utilizado, este deverá sempre ser selecionado, deter as características necessárias para a tarefa que irá desempenhar, ser altamente familiarizado com diferentes contextos e pessoas, e treinado para a sua importante função. O temperamento é fundamental, e só deverão ser utilizados em terapia animais que estejam cómodos nos diferentes ambientes, e sempre assegurando o seu bem-estar. Não podemos nunca esquecer que a nossa “ferramenta” é um ser vivo, senciente, e que só poderá ajudar os outros se ele mesmo se encontrar bem.
Para trabalhar nesta área é então fundamental criar uma equipa multidisciplinar, aliando os conhecimentos de terapeutas (psicólogos, terapeutas da fala, fisioterapeutas, etc.), treinadores, veterinários, que em todo o momento asseguram a qualidade do serviço, não durante a sessão, mas também antes e depois.
O que diz a ciência?
Vários estudos têm sido feitos acerca do impacto da utilização de animais em diferentes tipos de intervenção, com pacientes de diferentes características.
Alguns resultados apontam para:
– Benefícios comunicacionais em crianças (mais facilidade em identificar sinais não verbais) – Stetina et. Al (2001)
– Efeitos positivos nas pessoas com diferentes problemas de saúde – Fine (2000)
– Minimiza solidão, falta de exercício físico e stress – Stanley-Hermanns & Miller (2002)
– Diminuição de verbalizações excessivas, comportamentos abusivos e diminuição da frequência cardíaca – Walsh et al. (1995)
– Aumenta a quantidade e qualidade das interações – Elliot & Milner (1991)
– Aumenta a frequência de sorrisos – Batson et al. (1997)
– Melhora a autoestima – Beck (2003)
Então:
Nas sessões de Terapia Assistida com Animais, os animais servem de:
– Estímulo multissensorial: como seres vivos que são, os animais convertem-se num estímulo multissensorial muito forte já que são capazes de captar a atenção e motivação do paciente, melhorando a sua cooperação e implicação na terapia ou atividade. Os animais podem induzir a um estado de relaxamento imediato, psicologicamente tranquilizador pelo simples facto de atrair e manter a nossa atenção (Katcher et al., 1983 cit. por Serpell, 2003).
– Catalisador de interações entre humano-animal: Segundo Bardill (1997) e Beck (2003), o animal catalisa interações, melhora a autoestima, é uma excelente distração e melhora a sensação de segurança.
– Elo de ligação: os animais servem como elo de ligação: um terapeuta que utiliza animais numa sessão de terapia pode parecer menos ameaçador e, por esta razão, o paciente pode sentir-se mais predisposto a colaborar já que os animais, por si só, têm um efeito tranquilizador. Corson y Corson (1980) descrevem esta função como “lubrificante social”: a presença de um animal permite que o paciente se sinta confortável, o que potencia a comunicação e o estabelecimento da relação terapêutica.
– Catalisador de emoções: os animais podem desencadear comportamentos divertidos que provocam alegria e riso. Sabemos que o humor é muito eficaz na melhoria do estado mental de uma pessoa. O riso e a alegria são dois ingredientes que têm um impacto muito positivo na qualidade de vida de uma pessoa. Os animais não só trazem calma e tranquilidade a uma relação, mas também podem provocar muita alegria e risos através de situações cómicas.
– Fonte de motivação: os animais aumentam a motivação do paciente. Têm a capacidade de inspirar e motivar as pessoas para que participem em atividades construtivas ou que nunca realizaram noutros contextos (Hart, 2003). Um cão é também incitador do jogo devido à neotenia – propriedade, em animais, de retenção na idade adulta de características típicas da sua forma jovem.
Conclusão:
Esta forma de intervenção não deve ser vista como uma terapia alternativa, mas antes complementar. O processo terapêutico segue de acordo com o que o terapeuta (convencional) determinar, simplesmente utiliza uma “ferramenta” viva, que poderá facilitar o processo. Como a música na musicoterapia, ou a água na hidroterapia, o animal aparece como agente num processo que deverá ser sério, desempenhado apenas por profissionais acreditados.
Maria Queiroz, Psicóloga e Educadora Canina